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Por André Thieful para o jornal Piracicaba Hoje 

Piracicaba é conhecida por sua força em diversos segmentos e não é diferente na cultura. São vários os representantes dessa terra mundo afora e o comerciante de roupas Palmiro Romani, de 62 anos, não foge à regra. Ele bem que poderia ser citado, inicialmente, como artista profissional, mas é o hobby, o negócio de família que toca a pedido do pai, que lhe dá segurança financeira. A afinidade com as artes o levou à diretoria cultural da Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba).

A arte está no sangue. Desde criança enquanto um amigo batia bola na parede, ele desenhava. Mas foi a esposa que o incentivou ao vê-lo desenhar. O trabalho, no entanto, apesar de bem feito, não o diferenciava muito de outros pintores. Ainda assim, foi apelidado por um secretário do ex-governador Paulo Maluf, em visita a cidade, de Van Gogh caipira.

Chegou ao MASP (Museu de Artes de São Paulo) com um portfólio com obras premiadas na cidade debaixo do braço, indicado pelo então governador, com a pretensão de expor seu material e foi recebido pelo curador do Museu com palavras educadas, mas duras. “O senhor quer ser conhecido como o Van Gogh do interior ou como o Romani? O que o senhor acha que está trazendo de novo para expor aqui no MASP?”.

O curador ainda disse que o artista poderia ser prejudicado na carreira por expor em museu tão tradicional sem grandes novidades. “O que o senhor faz eu arrumo cem (artistas) que fazem melhor. O senhor não está fazendo nada novo”. Na época Romani apresentou pinturas a óleo que retratavam o rio Piracicaba, Casa do Povoador, e outros atrativos culturais da cidade. “Eu estou falando para o seu bem, porque estou vendo que o senhor tem potencial”, contemporizou o curador.

As palavras honestas do curador o deixaram desnorteado. “Eu saí do Museu e não conseguia, sequer, achar o carro. De repente observei um outdoor totalmente desgastado pelo tempo. Eu comecei a viajar naquela imagem e disse: quero fazer isso”, explicou. Ao chegar em casa começou a trabalhar naquilo que seria o seu ápice como artista. Foram anos usando pintura, ácido, mas não conseguia atingir o objetivo. Já próximo ao ano 2000, com ajuda do computador, Romani passou a finalizar as obras digitalmente. Foi nesse período que ganhou o prêmio Rumos Visuais do Itaú Cultural.

O prêmio o credenciou a expor na Pinacoteca do Estado. Uma releitura que ele havia feito de uma obra do desenhista brasileiro Almeida Júnior foi selecionada para compor o acervo do Museu. “Os maiores artistas do Brasil faziam uma releitura de cada obra de Almeida Júnior”, explicou. A obra acabou selecionada e foi incorporada ao patrimônio.

Já na virada do ano 2000, Palmiro Romani foi convidado pelo Sesc para fazer uma exposição sobre o fim do milênio. Para tanto, convidou os fotógrafos Marcelo Germano e Paulo Alcides Tibério (Pauléu). “Eu disse: quero fotos de desgraças de Piracicaba. Coloquei em um quadro e fiz um negócio maluco”, explicou. Quando terminou a exposição, colocou fogo em todas as obras expostas. “Tudo que for desgraça vou atear fogo, mas vou filmar. Então, fiz um filme de toda a exposição”. As imagens viraram um curta metragem, que foi selecionado e acabou vencedora de um festival no Chile.

Confira matéria na íntegra no site do Jornal Piracicaba Hoje